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journal :: Novembro 2005
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05.11.2005 (sab)
O Pedro queria ir ver o Doom e eu fiz-lhe companhia, apesar de não estar interessada no filme. Mas sinceramente, ir ao cinema é algo que não me faz diferença, seja qual for o filme. Raramente é uma seca completa, mesmo que o filme seja mau. Como não esperava grande coisa de qualquer forma, não podia ficar decepcionada.
É um filme de tiros comum, com uma menina que precisava de mais umas aulas para aperfeiçoar o sotaque americano, e com uma ou duas cenas com piada. Os monstros não são maus mas são pouco variados e a história é um bocado treta. Concordo com o Pedro sobre a questão do Inferno. Esta mania que os americanos têm de fazer tudo 'limpo e desinfectado' já irrita. Destroem a fantasia com a necessidade de criar respostas lógicas para tudo. A fantasia é suposto ser o oposto do lógico e racional. É a parte que está intimamente ligada com o lado emocional do nosso cérebro. O lado que nos faz sentir medo do escuro e dos montros debaixo da cama que sabemos não existir. Lidar com esses medos e ultrapassá-los é uma parte importante do crescimento. Se os contos de fadas já foram todos suavizados e agora nem nos filmes temos direito a monstros que não sejam mais do que humanos mutantes, estamos mal. Especialmente porque os humanos não precisam de mutações para serem monstros.
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08.11.2005 (ter)
Acabei hoje o projecto com que tenho estado ocupada. Tem-me causado uma ansiedade enorme e constante e não penso em mais nada há 3 semanas. Tenho acordado cada vez mais cedo e às vezes às 8 da manhã já estou aqui sentada a fazer aquilo. É desgastante mas acho que me sinto melhor assim do que se estivesse a tentar fazer de conta que não é nada e com um nó no estômago porque sei que mais tarde ou mais cedo vou ter de vir fazer isto. Adiar nunca funcionou comigo. Sou exactamente o oposto - quando tenho qualquer coisa para fazer só descanso quando estiver acabado.
O Pedro acha que é um defeito - o facto de eu só conseguir pensar em termos de começar e acabar coisas. E provavelmente é. Assim que começo só consigo pensar em 'quando é que isto acaba'. O meio é algo com que nunca consegui lidar muito bem.
Mas até hoje acho que só há duas coisas que consigo manter 'a meio' sem me incomodar - a minha relação com o Pedro e a minha própria vida. Porque no fundo, estar vivo é o meio. E saber como acaba nem sempre é bom.

É claro que dizer que acabei hoje um projecto não é inteiramente verdade. Acabei aquilo que era previsível. Mas sei que ainda vão chegar muitas alterações. E como são coisas que não consigo prever, isso deixa-me nervosa.
Prefiro estar ocupada a ter a falsa sensação de ter tempo livre e depois estar enganada. Não há nada pior.
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09.11.2005 (qua)
Tive um dia relativamente calmo.
Ou melhor, uma tarde, porque de manhã ainda tive uns momentos de pânico.
Mas depois passou e consegui efectivamente sair do computador e ir tocar piano durante uma hora.
Resolvi começar a aprender a tocar as minhas próprias músicas. Acho que é uma vergonha não as asber tocar :)
Ando a brincar com aquilo até gravar e depois nunca mais lhes toco. Mas como preciso de treinar a voz, especialmente desde que estive doente, dá um certo jeito.
E é também porque estou há tanto tempo à espera de ter uma mistura decente que já desisti. Acho que nunca vão estar prontas e se me quero divertir com elas tem de ser a tocá-las.
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10.11.2005 (qui)
Estava finalmente a entrar no espirito de ter tempo livre mas não durou muito. Já recebi um mail que me indica que ainda vou ter muito com que me chatear.

Gostava tanto de conseguir manter-me calma mas sou completamente incapaz de o fazer. E nem é por ser nada de especial. É só mesmo uma questão de não estar preparada para surpresas. Assim que percebo que há qualquer coisa que eu não estava à espera entro em modo de pânico. É completamente estúpido. Mas suponho que também seja natural. Se eu já não gostava de surpresas antes, agora então ainda menos. Estou sempre à espera do pior. É uma reacção normal a ter a certeza absoluta que a minha vida está completamente fora do meu controlo.

E a reacção a isso é que começo a ficar irritada. Especialmente quando as pessoas começam a abusar.

Fiz uma encomenda de mais umas coisinhas para a casa de bonecas. Nunca mais tinha comprado nada e assim aproveitei para juntar uma prenda de Natal à lista.

Ainda me custa ter de começar a pensar no Natal. Este ano vai ser obrigatoriamente diferente, e provavelmente um bocado deprimente. Faltam dois elementos da família - o meu avô que morreu no Natal do ano passado e o meu filho e acho que não vou conseguir ignorar isso.
Já decidi que não vou a Palmela este ano. A única razão pela qual ainda pensaria em ir seria por causa da minha avó Cândida que quase nunca vejo, mas só de pensar em passar a noite com todos os meus primos e as suas crianças percebo que não estou preparada para isso.
O filho do meu primo Pedro Alexandre nasceu um mês antes do nosso morrer e é demasiado próximo para me conseguir comportar normalmente.
Não acho que valha a pena obrigar-me a ir só para passar a noite na casa de banho a chorar.
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14.11.2005 (seg)
Hoje consegui pela primeira vez acalmar-me o suficiente para passar um dia sem grande ansiedade. De manhã é sempre mau porque já acordo a sentir-me mal, graças aos sonhos que tenho todas as noites, mas depois consegui ultrapassar isso e fazer algumas das coisas que gosto sem estar constantemente a preocupaer-me com o que pode vir a acontecer.
É claro que de vez em quando tinha de me levantar e verificar se não havia nada de importante no email, mas de resto consegui vencer o monstro.

A meio da tarde sentei-me na sala a fazer colares de missangas e a rever a primeira season da série The OC. Normalmente não acho piada nenhuma a telenovelas, mas por qualquer razão fiquei com vontade de ver esta série. Mais telenovela que isto é impossível - temos montanhas de triangulos amorosos, overdose, uma teenager grávida que leva porrada do noivo, uma filha ilegítima, e a lista continua. Ainda não vi ninguém em coma mas vão lá chegar quando não se lembrarem de mais nada, que é o que acontece em todas as séries - até no Angel, que de resto tinha uma storyline menos comum.
Com isto tudo e a previsibilidade destas histórias de treta seria de imaginar que não tivesse um pingo de interesse, mas estranhamente também tem alguns pontos positivos. Tem algum sentido de humor a contrabalançar o excesso de melodrama e tem bons actores a interpretar os personagens adultos, especialmente o Peter Gallager, que ajuda a fugir de uma série completamente centrada nos dramas adolescentes.
Para além disso a piscina é fabulosa e acho gosto de ver a série pelo cenário :)
Mas é basicamente um daqueles 'guilty pleasures' que não se gosta de admitir. Sabe-se que é mau, ou pelo menos não é muito bom, mas não se resiste.
Aliás, tive o mesmo dilema quando comecei a ver a Buffy. É difícil de explicar a algumas pessoas qual é a piada da série. Especialmente se não tiverem um grande sentido de humor.
Na verdade estava com imenso medo de admitir ao meu próprio marido que andava a ver esta série. Pensei que iria descer na sua consideração. É um bom exemplo do nível de paranoia a que consigo chegar, mas é verdade que muitas vezes julgamos as pessoas com base nos seus gostos e interesses.

O meu pai passa a vida a dizer com grande orgulho que eu fui educada como um rapaz. O que isso quer dizer na cabeça dele é que não existiu distinção de educação entre mim e o meu irmão e que fizeram o esforço de tentar ensinar-me a pensar por mim. E até uma certa idade penso que isso foi verdade com uma excepção: esse poderia ser o plano do meu pai mas a minha mãe gostava da ideia de ter uma menina e insistia em vestir-me de saias e folhinhos, o que eu detestava.

O resultado das mixed messages foi que só a partir dos 17 anos, quando comecei a desenvolver melhor a minha independência e a analizar a minha personalidade - no fundo a idade em que a pessoa deixa de estar em formação e se começa a aperceber de quem é - é que comecei a ter noção do que gosto e não gosto. Se o gosto por policiais sempre esteve lá, nesta altura descobri a Jane Austen e o gosto por comédias românticas - muito mais 'menina' e por isso algo com que nunca teria contacto em casa. Aliás, a primeira e única vez que li um romance para adolescentes, quando tinha uns 13 anos, fui gozada por toda a família, pelo que desisti muito rapidamente.
Foi particularmente humilhante porque nem comprei o livro pela história mas por uma razão muito mais estúpida e que na altura não seria capaz de admitir - gostei da cor do cabelo da menina cuja foto vinha na capa do livro. Considerando que passei anos a pintar o meu cabelo de todas as cores existentes no mercado à procura daquela que era 'eu', acho que diz muito.
Mas aquela atitude de ser observada e gozada pela minha família quando fazia algo que não encaixava no que era esperado de mim tornou-me bastante fechada, defensiva e reprimida e pelos vistos ainda não consegui livrar-me disso completamente. Tenho sempre medo de abrir a boca se não souber exactamente o que estou a dizer e não admito nada que possa causar críticas. Isto torna relacionamentos com outras pessoas muito complicado.
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15.11.2005 (ter)
Desde ontem à noite que é só barulho neste prédio. Tanto o andar de cima como o do lado estão vazios e parece que andam em preparação para mudanças em ambos. Ontem por volta da meia noite andavam a transportar móveis no andar de cima e hoje durante toda a manhã só se ouvia martelar e portas a bater na casa do lado. Isto nunca foi muito silencioso, graças aos vizinhos que gostam de ouvir música alto, mas ficou bastante mais calmo quando os vizinhos do lado se mudaram. Enfim, sempre foram dois anos de paz relativa. Tinha que acabar eventualmente.
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16.11.2005 (qua)
Estou constipada. Ontem passei o dia com dor de garganta e hoje não há dúvidas.
Mesmo assim tive de me levantar e ir ao banco porque precisavamos de tratar de uma coisa urgentemente.
Resolvi aproveitar para levar o saco das pepedras dos gatos para baixo e só quando já estava na rua é que me lembrei que não tinha posto pedras novas. Mas pensei que ia demorar pouco mais de cinco minutos no banco por isso não devia fazer muito mal. Erro número 1.
Quando cheguei ao banco perguntei pela nossa nova gestora de conta - estão-nos sempre a mudar de gestor de conta, mas desta vez ainda bem porque o anterior ignorou completamente um pedido que lhe fiz e fiquei com má impressão dele - e disseram-me que tinha saído para uma reunião. O costume. De que serve um gestor de conta se nunca está no banco?
Estão esperei com o resto das pessoas para falar com o gerente, que substitui quem não está lá. Quando chegou finalmente a minha vez afinal a gestora de conta estava no banco. So typical.
Mas pronto, lá fomos tratar daquilo, que não demorou muito tempo, e voltei para casa.

Quando cheguei a Scully começou a seguir-me com aquele miado que normalmente guarda para aquelas poucas vezes em que cozemos peixe e ela quer um bocadinho. Ou seja, um miado que indica que ela quer qualquer coisa desesperadamente. Só depois de pensar um bocadinho é que me lembrei das pedras. Aparentemente um deles teve uma emergência e lá estava ela a tentar tapar o serviço. Pobres bichos.

Há algum tempo que tomei a decisão de não atender chamadas de números não identificados. Acho que é uma grande lata alguém ligar para o meu telefone mas não querer que ninguém saiba o número que ligou. Como geralmente é telemarketing, não me preocupa muito, mas por vezes também acontece serem telefonemas de pessoas que conheço e que ligam do emprego e por isso acabo por ceder de vez em quando. Mas cada vez que o faço acabo por me arrepender.
Esta noite foi uma tipa com notes de ruído de fundo. Não percebia quase nada do que ela estava a dizer e por isso demorei um bocado mais do que o costume a por as defesas em pé. Mas quando ela falou em turismo e num passatempo o meu cérebro lá fez click e disse que não estava interessada. A mulher em vez de desistir graciosamente resolveu insistir e começar com uma conversa infindável. Ainda tentei responder educadamente uma ou duas vezes e dizer que agora não dá muito jeito mas não sortiu efeito e depois perdi a paciência e desatei aos gritos sobre a lata de me incomodar em casa e a insistencia monumental e desliguei. Não insultei a mulher nem disse nada considerado impróprio porque é preciso irritar-me muito mais do que isto para me fazer utilizar um vocabulário mais colorido mas foi o suficiente para ficar irritada durante uma meia hora.
odeio spam, sobre todas as formas - por email, correio ou telefone. É a praga do nosso século e acho que quem utiliza estes meios para promover o seu negócio devia ser enterrado até ao pescoço, coberto de mel e abandonado para ser comido vivo por formigas e outros animais. Penso que é equivalente ao incómodo que nos é causado diariamente por estes parasitas.
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20.11.2005 (dom)
Fomos jantar com os meus pais, o meu irmão e a Ana. O Pedro M. e a Ana estiveram em Florença a semana passada e estiveram a contar-nos algumas das suas observações de viagem. Agora estou curiosa para ver algumas das fotos.
Chegámos novamente à altura do ano em que há almoços e jantares de família todos os fins de semana. E a conversa acaba sempre nas listas de prendas de Natal, que toda a gente devia fazer mas não fazem. De qualquer maneira parece que tenho as prendas para o meu lado da família mais ou menos resolvidas. Mas também são só 4 ou 5 prendas, por isso não é muito complicado. Agora falta o lado do Pedro, que é uma quantidade bastante maior. O Pedro vai ter férias na primeira semana de Dezembro e temos de tratar das compras todas nessa altura porque ir ao Fórum ao fim de semana daqui para a frente vai ser impossível.

O Natal este ano não vai ser bem o que eu estava à espera mas até estou a entrar no espírito. Tem o gozo de fazer compras sem o sentimento de culpa de gastar dinheiro em mim própria. What could be better?
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21.11.2005 (seg)
Hoje tive um bom dia. Acordei ansiosa como sempre, especialmente à segunda feira, e estive mais uma hora sem coragem de sair da cama, a ouvir o vento e a chuva. Mas depois melhorou. Bebi um martini com coca cola e estive a embrulhar prendas de Natal. Depois fui aos correios buscar umas encomendas e estive a desfazer o tapete de arraiolos (não perguntem) e a ver a segunda série do The O.C. toda a tarde, feliz da vida.

Acho que encaixei finalmente o facto de que não posso mudar o que aconteceu e, apesar de continuar triste, consigo finalmente passar um dia inteiro sem chorar e começar a viver o dia a dia sem grandes dramas. Suponho que o facto de passar os dias a ver séries e a evitar a vida real ajude, mas a minha técnica incial foi confrontar a situação todos os dias e isso não resolveu nada. Se não tiver de estar sempre a pensar no assunto e a falar nisso pode ser que tenha uma hipótese de começar a planear o futuro com um bocadinho mais de optimismo.

Como resolvi que estava na altura de voltar ao mundo dos vivos liguei à Carla e combinei encontrar-me com ela no sábado. Vamos ver como corre...
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22.11.2005 (ter)
Não consegui manter a boa disposição por mais do que um dia. Já não é mau, mas gostava que durasse mais tempo.
Hoje fui atingida por uma onda de baixa auto-estima. O meu peso voltou a subir e sinto-me mal por isso. Sei que a culpa é minha, sei que preciso de fazer dieta e exercício todos os dias para o resto da minha vida se quero manter um peso decente mas nem sempre consigo. Às vezes preciso de fazer asneiras e comer chocolates. Só que basta uma semana para aumentar 3 quilos que demorei 3 meses a perder. É completamente frustrante e desanimador e fico de tal forma derrotada que acabo por achar que nem vale a pena esforçar-me e faço ainda mais asneiras. É o pior ciclo vicioso que conheço.
O pior é que quero voltar ao meu peso antigo, não por vaidade mas para estar numa plataforma saudável para a próxima gravidez e este tipo de recaídas deprime-me ainda mais por causa disso. Todas as minhas dúvidas e medos reaparecem e começo a sentir que já está a correr tudo mal e que não vou conseguir mudar nada.
Mas pronto. Vou ter de fazer um novo esforço e esperar que desta vez tenha força de vontade suficiente para aguentar mais do que um mês.
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23.11.2005 (qua)
Demorei 3 dias a ver a segunda season do The O.C.
E agora faço o quê? :)

Consegui completar dois dias consecutivos com exercício.
Resolvi mudar de táctica: passei o exercício para o final da tarde. Depois de um dia inteiro sentada, seja ao computador, seja no sofá da sala a lutar com o tapete de arraiolos, até sabe bem mexer-me um bocado e tenho menos desculpas. A música passou de Goldfrapp para NIN. Assim também escuso de fazer de conta que aquilo é divertido e apelar ao meu lado mais agressivo. Como o objectivo é queimar calorias, não interessa se a energia é positiva ou negativa.

O mais interessante nisto tudo é a quantidade de teorias e racionalização que eu preciso para fazer uma coisa tão básica como mexer-me. Odeio exercício.
Não me importo nada de andar, mas andar não me faz porra nenhuma e ainda por cima não consigo sair de casa sem pensar se devia ir armada. É o pensamento mais estúpido possível mas sinto-me sempre completamente indefesa quando saio de casa e por isso evito faze-lo.
Acho que ainda não consegui ultrapassar os traumas da adolescência.

Será que alguém gostou da sua adolescência? Se sim deve ser exactamente o tipo de pessoa que eu não quero conhecer.
Os adolescentes dividem-se em dois grupos - os predadores e as vítimas. E dividem-se em sub-grupos para se protegerem uns dos outros.
Eu nunca aderi a grupos e como tal era a vítima ideal. Quando tinha 12 anos era perseguida diariamente. Cheguei a ter umas pseudo-lutas ridículas, em que não podia fazer grande coisa porque nunca se ensina as raparigas a defenderem-se, contra umas tipas com idade para ter juízo. Tornei-me agressiva e desconfiada e aprendi a evitar de forma fabulosa aquelas pessoas que estão na rua com pastinhas na mão a tentar vender alguma coisa.
Ainda hoje, cada vez que uma senhora caminha na minha direcção no supermercado a tentar dar-me a provar o novo sumo tal, escapo-me rapidamente na direcção oposta. Algumas, mesmo assim, não desistem. Ainda não bati em ninguém, mas às vezes apetece-me.
Sou então altamente anti-social e fecho-me em casa semana após semana como se o mundo exterior estivesse contaminado por uma nuvem radioactiva. Sou das poucas pessoas que acha que passar uns anos num bunker com comida, àgua e uns DVDs até era capaz de ser giro.
O pior é que saber que se é assim não resolve automaticamente o problema. Cada vez que tenho de sair de casa passo por um ritual elaborado. A roupa, a maquilhagem e a preparação psicológica são muito importantes. Tudo para me sentir confiante o suficiente para enfrentar as feras. É muito triste ser assim.

Daí que, quando começo a ganhar peso, a auto-estima e confiança descem. Começo a isolar-me mais, perco a vontade de fazer compras (algo que o Pedro já suspeita que é um dos primeiros sinais de alarme) e fico com uma grande vontade de ser provocada por alguém só para ter uma desculpa para lhes espetar um garfo na testa.
Em vez disso vou ter de me auto-torturar novamente através de dieta e exercício. Acho que também não vai ajudar ao bom-humor.
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26.11.2005 (sab)
Fui ver o novo Harry Potter. Costumamos ir à hora de almoço porque está geralmente menos gente mas desta vez o cinema estava cheio. Para além disso tive o azar de ficar imediatamente à frente de 3 idiotas que não se calavam. Faz-me tanta confusão o facto de já não se poder ir ao cinema sem apanhar estes grupos de adolescentes que não conseguem fazer distinção entre estar em casa a ver um DVD e estar no cinema rodeados por pessoas que estão a tentar ver o filme e não querem saber o que eles pensam.
Depois de considerar seriamente ter um momento Monty Python e atacá-los selvaticamente com a minha mala, resolvi mudar de lugar, coisa que tive de fazer duas vezes, cada vez para mais longe, até conseguir deixar de os ouvir. Odeio pessoas mal educadas.

Depois do filme pensei que iamos às compras mas o Pedro estava com um ar tão chateado que resolvi ir antes para casa.

À noite fomos a Benfica ao aniversário da Bela. Não estava a sentir-me muito festiva e tive um ou dois momentos de pausa a meio de conversas. Parece que por mais que tente não vou conseguir voltar a ter uma conversa normal. Há sempre um momento em que a próxima frase tem alguma relação com o que nos aconteceu. Seja a conversa do peso, seja a razão pela qual não estou activamente à procura de clientes. Consegui calar-me mas não consigo evitar que o pensamento exista. É o eterno elefante.

Quando voltámos, passámos por casa da Marta para ver a decoração. A sala parece saída de uma casa de praia. Está muito agradável e luminosa, apesar da utilização de azul forte em algumas paredes.
O quarto também ficou muito giro, em verde e rosa.
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27.11.2005 (dom)
Esta tarde tinha planeado encontrar-me com a Carla mas ela ligou a cancelar. Acabei por ficar o dia todo em casa a fazer o novo tapete.

À noite o Pedro foi a casa dos pais ver um jogo de fubebol e eu fiquei a ver o filme 'The Aviator'. Devo dizer que a Scully gostou muito mais do filme do que eu. Cada vez que apareciam aviões a voar ela sentava-se em frente ao plasma a seguir o movimento. Nunca vi um gato tão interessado em televisão.
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28.11.2005 (seg)
Tive mais um dos meus sonhos maravilhosamente perturbantes. Acho que consegui enfiar todas as coisas que têm capacidade de me causar ansiedade num só sonho. É um daqueles em que se acorda cé se tem uma grande sensação de alívio ao perceber que foi só um sonho.
O problema é que acordei com o telefone a tocar - mau sinal quando é logo de manhã cedo - e era mesmo um problema para resolver. Na verdade não pude fazer nada porque o problema não era do meu lado, mas em cima daquela sensação de estar tudo a correr mal que veio do sonho, fiquei em pânico para o dia todo.
É a coisa mais estúpida do mundo mas ultimamente tenho capacidade nula de me acalmar, mesmo depois de passar duas horas a tentar analizar logicamente a questão e a convencer-me que não vale a pena estar assim e que não há nada que eu possa fazer. Há alturas em que me apetece bater a mim mesma para deixar de ser tão parva.

Tentei por música a tocar mas quando estou assim só fico pior. Funciona como ruído que me impede de pensar claramente e fico ainda mais nervosa a pensar que assim não consigo ouvir o telefone se voltar a tocar. Nestes dias já sei que não há nada a fazer. Vou passar o dia a lutar com isto, sendo que a única vantagem é que perco completamente o apetite.
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29.11.2005 (ter)
Mais um dia de pânico irracional. Se isto não pára brevemente acho que vou mesmo ter que começar a tomar qualquer coisa. Ou isso ou começo a abusar do alcool, o que é um bocado estranho para uma pessoa que nunca gostou de beber.
Deep breaths...

Ao fim do dia saí com o meu pai. Fomos dar uma volta ao frio, até à praça S. João Baptista, onde parámos para beber um chá quente.
Pelo caminho fomos a uma joalharia porque o meu pai queria ajuda para escolher umas prendas de Natal. E como comentei que gostava de uns brincos que estavam no expositor, ele comprou-os para me oferecer. São umas argolas de prata grandes, daquelas que se usavam nos anos 80. Na altura não cheguei a ter nenhuns mas sempre gostei.
Muito obrigada paizinho - são muito giros e acho que ficam lindamente com a minha nova cor de cabelo :)

O mais estranho é que me apercebi que os problemas que tenho com aceitar presentes são, pelos vistos, com toda a gente e não só, como eu pensava, com pessoas que não conheço bem. É estranho mas é uma coisa que tenho desde miúda. Se me perguntavam se queria uma pastilha elástica ou qualquer coisa igualmente simples, mesmo que quisesse a resposta era sempre 'não, obrigada'. Não compreendo porquê mas tive sempre esta dificuldade em aceitar alguma coisa de outras pessoas. E no entanto gosto imenso de dar presentes a pessoas de quem gosto e não espero nada em troca.
Mais uma coisa a juntar à lista de problemas a discutir com um psicólogo quando se esgotarem as alternativas.
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30.11.2005 (qua)
Acordei exactamente na mesma, mas como não aconteceu nada ao longo do dia, consegui ir-me acalmando.

Estive a fazer uma wishlist de material fotográfico, a ler mais um bocado do livro de fotografia e do manual da máquina - tenho o raio da máquina há um ano e só quando finalmente encomendamos uma nova é que me dá para ler o manual.
Ando portanto em fase fotográfica. É uma das poucas coisas de que sempre gostei e começou-me a irritar o facto de qualquer pessoa ser fotógrafo hoje em dia e eu nunca mais ter pegado na máquina com a intenção de fazer fotos só por divertimento.
E também me apeteceu aprender mais umas coisinhas a nivel técnico porque o que aprendi na altura da faculdade já estava um bocado esquecido. Felizmente não me importo nada de estudar desde que o assunto me interesse, por isso tenho andado a devorar os livros que tenho em casa juntamente com artigos espalhados por diversos sites.
Como não posso viajar agora, pode ser que durante a próxima semana, em que o Pedro está de férias, dê pelo menos para fazermos um mini safari fotográfico.

Isto se eu não tiver que trabalhar, claro. Porque ao fim do dia tinha um mail a pedir um orçamento para um trabalho que tem de ficar pronto antes do fim do ano.
Há alturas do ano em que de repente é tudo urgente - geralmente Setembro e Dezembro. É quando as pessoas acordam de repente. Só que eu estava toda lançada para ter um mês sem grande stress para ver se consigo ultrapassar as minhas fobias, que estão a piorar, mas parece que vou passar mais um mês de terror permanente.
Tudo bem. Como vou passar a noite de Natal sozinha em casa, pode ser que me deprima menos se estiver a trabalhar.

Agora estou à espera que o Pedro venha para casa para irmos jantar com a Marta que faz anos hoje. Parabéns Marta!
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